sexta-feira, 14 de novembro de 2014
Eu me aguento.
Eu
me aguento porque alguém neste mundo precisa me aguentar. Eu suporto
esquecer os sapatos longe da cama e bater o pé na porta. Alguém
precisa me suportar.
Eu
machuquei o braço na escola e dei risada porque a batida foi tão
imbecil, e nem teve sangue pra que alguém precisasse me carregar, mudei de lugar pra evitar o ar gelado e bati de novo o mesmo
braço, no mesmo maldito lugar, e tranquei a boca para aqueles
palavrões que quase vomitei.
Eu
me aguento porque apesar de não me entender nas minhas confusões,
eu confesso pra todo mundo que não sei o que fazer e alguém
precisa me entender e me aguentar, que seja eu mesma, por mim mesma,
pela falta de gente que me deixa ficar sem esperar nada em troca.
Eu
tomo banho pra chorar em paz, eu saio do banheiro com a cara toda
inchada como se tivesse levado umas porradas de algum lutador perdido
em minha cidade, e daí eu digo que é natural, os dedos enrugam, o
rosto incha, é a água quente e coisa e tal – mãe é culpa do
vapor-.
Alguém
precisava enxugar estas lágrimas, e me secar depois do banho, sem
perguntar o motivo do choro ou porque o braço está roxo e
machucado, bem em lugar que eu precisaria correr e me socar na parede
pra ficar como ficou. Eu deixei os palavrões na escola, não há
nada que eu queira contar.
Eu
me aguento porque as pessoas esperam demais dos meus textos, da minha
capacidade de rir de minhas piadas sem graça, esperam demais só
porque eu tenho um blog só meu, um computador só pra mim, e um
celular que anda salvando minha vida, só pra mim.
Eu
suporto mais do que qualquer pessoa meu vai-e-vem sobre amor, minhas
vontades esquisitas e meus gritos esquizofrênicos. Me aguento quando
eu ouso a mesma musica só para evitar tristeza, me aguento na
vergonha, na besteira, na merda depois de feita e sem conserto.
Eu
preciso me entender, me aceitar, me mudar e deitar no chão já
cansada porque ninguém mais me aguenta. Qualquer cara aguenta um
corpo nu de mulher, mas eu, ainda sem roupa, me sinto pesada demais,
e sou eu quem aguenta este peso.
Às
vezes eu ando torta de propósito, pra ver o mundo por outra
perspetiva, porque daí me sinto um animal sem pele, e todo mundo
me olha , assim, do outro lado da rua.
As
pessoas me olham quando pareço mais estranha do que já sou, alguém
precisava me olhar . Me aguentar quando eu estiver de pijamas e
despenteada, quando minhas respostas forem curtas e eu soltar algumas
palavras sem necessidade, isso não é um pedido – me aguentem por
favor – é gratidão por mim mesma, estou só colocando isso tudo
em algum lugar pra que eu possa ler e lembrar de vez em quando, que
eu também [junto da maioria], não posso desistir de mim, alguém
precisa me aguentar, que seja eu mesma, por mim mesma, e coisa e tal.
CARTA PARA MINHA FUTURA EU.
QUERIDA FUTURA EU...
Seria
um prazer e uma tremenda sorte a minha poder sentar para conversar
com uma pessoa como você. Talvez eu pudesse te dizer algumas coisas
que aprendi com as pessoas que eu amo, com aqueles que um dia me
amaram e com aqueles que nunca nem souberam o que isso significava.
Provavelmente as horas passariam depressa e a nossa conversa iria ate
a madrugada. Mas, sinto muito, eu não teria coragem de te dar
conselhos. Simples mente por não estar pronta para isso.
Quem
sabe, pequena grande mulher eu pudesse te mostrar o que sei sobre a
saudade, sobre ser forte e ser fraca ao mesmo tempo. Sobre as
inconstâncias e os medos que nos cercam. Sobre perdões, romances e
magia.Mas, para ser sincera,às vezes, saber as coisas não nos revela nada. Não nos transporta para os lugares e momentos em que gostaríamos de estar. Saber das coisas não nos ajuda a voltar no tempo e fazer as coisas de outro jeito, e nem sempre nos torna seres humanos melhores. Saber das coisas não traz realmente a resposta que precisamos no momento. Não diminui a dor, não impede ou bloqueia aquelas lágrimas teimosas na hora de dormir. Saber das coisas não nos completa, quando esta condição não nos permite materializar pessoas e nem dar um golpe no tempo.
Talvez eu saiba coisas demais assim como você deve saber,Mas ainda assim, não sei o suficiente. Saber é sempre pequeno. Sempre insuficiente. Então, eu te diria que poderíamos falar de muitas coisas, e que eu poderia te dar conselhos sobre qual tipo de chocolate escolher numa tarde cinzenta e triste, por exemplo.
E cá entre nós, eu posso saber muito mais coisas do que você, mas o melhor você já possui: o sentir. Saber é consequência óbvia e inevitável de quem se arrisca pela vida. Mas, poderoso mesmo é aquele que sente profundamente por todas as coisas do mundo.
E
qual livro ou filme você não deve ler quando estiver infinitamente
magoada. Ou quais lugares visitar quando estiver procurando alguma
paz. Porque estas são as coisas das quais eu sei e sinto confiança
nelas. São estes conselhos que eu te daria, certa de que eles não
fariam nenhum estrago em sua mente e coração. Certa de que eu não
levaria nenhuma culpa se colocasse tudo a perder em sua caminhada.
Porque, sobre o amor, sobre a esperança, sobre o tempo e os milagres
que ele nos trás, na verdade eu não sei quase nada. Sei que tudo
isso existe, e que estas coisas insistem sempre na gente, para que a
gente também sempre insista nelas. Está aí um bom conselho para te
dar que talvez sirva para teus olhos magoados e sua jornada: insista
no amor e acredite nos milagres do tempo.
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