quinta-feira, 25 de setembro de 2014

AmadureCIMENTO


Quando eu tinha cinco anos, sonhava com o dia em que eu faria sete. Fiz os tão sonhados sete anos e achava mais interessante completar logo dez. Dos dez aos doze eu esperei ansiosamente como uma mulher grávida espera pelo dia do parto. Aos treze, mal via a hora de fazer quatorze E hoje, aos quinze, queria acordar amanhã com cinco anos outra vez.
Eu imaginava que crescer significava encontrar um monte de coisas lindas pelo caminho e abrir portas incríveis de lugares mais incríveis ainda, onde só se entra quando se amadurece.A palavra “amadurecer” me atraía como uma cascata de chocolate na vitrine da doceria . Queria tanto provar esse tal amadurecimento que desejava que o tempo voasse e me desse logo os aniversários que eu precisava para alcançar tudo aquilo.Belo engano.Na teoria, amadurecer seria ganhar presentes da vida embrulhados em papéis lindos. O mundo sopra um vento delicado em seus ouvidos e você aprende uma coisa nova sobre família, amigos, carreira e amor. As lições seriam todas sutis.A chuva cai mansa e fresquinha em seus ombros e você entende a diferença entre o certo e o errado. Pronto. Amadureceu mais um pouquinho e está quase pronta, feito um bolo no forno.Essa foi a hora em que me enganei outra vez.Na prática, amadurecer foi preparar um banquete o dia todo e terminar comendo cocô de cavalo. Foi sentar na calçada para esperar alguma coisa muito importante que nunca veio, e de brinde ainda destruiu o que já havia chegado. Foi planejar e ver tudo se ir. Trabalhar duro para construir algo que foi descartado pelas impiedosas mãos do tempo. E se existe um jeito de aprender pelo amor, eu nunca cheguei nessa fase. Aprendi mesmo preparando sempre um “foda-se “com ar de superioridade, mas acabei vendo as coisas me foderem antes mesmo que eu conseguisse recuperar o fôlego.Amadurecer passou a me cheirar transformar o coração de algodão-doce em uma pedra de cimento dentro do peito. Talvez por isso a palavra seja amadure”cimento”. Acho que ela significou sempre que seria tornar-se uma pedra e eu nunca reparei. Mas passei a torcer para que os anos atrasassem os meus aniversários, porque o peito já estava pesado demais e era tanto cimento que daria para construir um prédio de cem andares.Não sei você, mas quando eu olho para as crianças hoje em dia, me pergunto se elas gostam da idade que possuem. E sinto uma vontade tremenda de contar para elas que é mais valioso não saber nada do que se tornar um sabichão infeliz. Já que amadurecer custa caro e a gente paga porque não tem escolha. Além de trocar a sua pele macia por rugas terríveis, você entrega ao mundo toda a sua pureza, inocência e simplicidade.Enquanto crianças isso é lindo de ver, mas, a medida que crescemos alguns chamam isso tudo de burrice. E quanto mais cedo nos livramos dessas coisas, alcançando o tal do amadurecimento, mais espertos ficamos e mais inteligentes.Pois eu preferia continuar burra pelo resto da vida do que ver morrer todas as minhas flores de sementes infantis.A gente sofre porque perdeu o emprego, levou um pé na bunda, não conseguiu realizar aquele sonho ou não viveu da maneira como queria, e depois de chorar até colocar as tripas para fora, as pessoas nos olham e dizem orgulhosas – “Mas com isso tudo você amadureceu muito, e isso é ótimo”, e eu não consigo ver nada de ótimo em ter que perder e sofrer para caralho para ganhar como prêmio “se tornar mais maduro”.Sinceramente, eu seria mais feliz se acordasse amanhã com sete anos e trocasse meus discursos sobre os impactos da modernidade por uma discussão interna para descobrir se é mais fácil pintar com lápis ou com giz de cera.Mas os anos me engoliram e agora que sou gente grande eu preciso me conformar com a perda. Outro brinde do amadurecimento: você aprende a se conformar.Minha prima ainda não completou cinco anos. E quando esse dia chegar, vou torcer para que na hora em que ela for assoprar a vela, não jogue fora aquela oportunidade tão pura e não peça para o tempo voar. Vou torcer para que ela peça que o tempo lhe dê asas, e que por toda a vida, apenas ela voe.


O amor passou!


O amor passou e você não viu por que estava ocupado demais tentando impressionar seus amigos naquela festa. Ou por que estava ocupado demais com aquela garota qualquer. Passou. E você nem viu por que embora se considere corajoso demais,ainda tem medo de encarar um amor de verdade. O amor para você é mais assustador do que o monte Everest.
O amor passou e você não o reconheceu. Isso por que esperava que ele viesse num cavalo branco ou que ela se parecesse com uma atriz americana. Mas a grande dica,o grande sinal para você perceber que aquele era o seu amor,estava no jeito de olhar,mas você estava ocupado demais com os decotes alheios que nem se preocupou em encarar alguém sem medo.
O amor passou e você nem viu por que teve medo de perder a oportunidade de sair e pegar geral. De não participar mais das rodas de bebedeira e dos churrascos de “machos”.Ficou com medo de precisar desmarcar viagem com os amigos da escola,de nunca mais ser convidado para sair e beber. Por que eu sei que você sempre acreditou que amar significa estar preso com correntes tão poderosas que te impedem ate de respirar como sempre respirou estando sozinho. Ele passou e você não notou por que sempre teve medo de sofrer ,de amar demais e perder a razão,sonhar e tirar para sempre os pés do chão,azedar de ciumes e não suportar doer ate chorar.
O amor passou e você não viu por que acredita que ainda é cedo. Que haverá outros dias,o melhor momento e um milhão de oportunidades para se apaixonar e viver algum romance que realmente te tire do eixo,que mexa com teus pensamentos e te tiram do paralelo.
Mas o amor não é um cavalinho no carrossel que passara por você repetidas vezes ate que você finalmente se interesse. Você não viu o amor passar por que ainda prefere a superficialidade de meia duzia de garotas gostosas. Ou por que prefere as cantadas diárias das mesmas meninas que não valem nada. Mas elas são populares e cuidam bem da sua autoestima,elas são interessantes e mantem seu ego sempre no alto.
O amor passou e você não viu passar por que suas palavras ainda são mais corajosas do que seus atos. Por que você não esta preparado e não consegue aceitar o fato de que nunca estará. O amor não sera um fenômeno que te explicara de uma vez por todas por que todos os sentimentos sempre ardem em seus olhos como se fossem o próprio sol O amor não acontece para trazer as respostas,mas para acalmar as perguntas.
E você não viu o amor passar. Ou talvez tenha ate visto e, (mais triste do que isso),fingiu que não viu,só por que perceber que ele era muito maior para o seu peito tão pequeno carregar.

O teorema de Pi


Eu tinha uma professora no primeiro ano do ensino médio que tinha um tipo raro de doença no coração,ela não sabia quantos dias,meses ou anos teria pela frente,então tinha uma sensação de urgência com as 24 horas do dia. Vamos chamar essa minha professora de “Pi”, a Pi era o tipo de mulher que dormia poucas horas,menos do que podemos imaginar. Tinha cabelos pretos,usava roupas esquisitas e sempre o mesmo batom vermelho. Mas não era no cabelo ou na sua rebeldia com as roupas que estavam as maravilhas,era o jeito como ela encarava a vida.
Pi acordava cedo,ela fazia questão de tomar o cafe da manha com a família. Ela sempre nos perguntava como havia sido nossas noites e quais foram nossos sonhos. Sua preocupação com as pessoas era constante. Mais do que isso era pronunciada em alto e bom tom a frase “eu te amo”,era pronunciada calmamente e com todas as silabas .Ela deixava o filho na escola e gritava “EU TE AMO! Pi sempre nos disse que o amor deveria ser gritado algumas vezes,para não ficar monótomo e cair na rotina. As pessoas costumam ficar surdas por que acostumam com as palavras. As vezes acrescentar algum palavrão para dar mais peso ao seu amor declarado:”EU TE AMO PORRA”.
Eu nunca vi uma pessoa encontrar tantos motivos para sorrir como a Pi. Talvez nem fosse tantos,fosse só um:a possibilidade de morrer a qualquer instante.
Ela não perdia tempo discutindo. Ou ate perdia,e transformava numa guerra com direito a berros e gestos exagerados. Era intensa,mergulhava fundo. Mais depois se demorava nas desculpas e fazia tudo para que as coisas voltassem ao normal. Insistia fundo no perdão,dava motivos para ser perdoada. “Estamos vivos,inteiros. Pelo que percebo. Não há motivos para continuarmos com essa babaquice” Essa era a resposta preferida de Pi.
Seu dia era cheio,só descansava na hora de dormir. Enquanto seus olhos estivessem abertos,ela estaria procurando alguma coisa para se divertir,algum lugar para conhecer,ou qualquer coisa mais interessante do que passar horas silenciosas ao lado de pessoas.
Eu tive a oportunidade de conversar algumas vezes com ela sobre assuntos diversos. Ela não me deixava quieta. era como se ela tivesse criado sua própria regra. nada de silencio. Suas aulas eram divertidas,cheias de novidade e ela adorava ver a turma interagindo. No final das aulas ela sempre fazia perguntas do tipo -o que significa a paz para vocês?
Quando eu penso em Pi não sinto nenhuma dor ou arrependimento. Além de aproveitar bem sua vida,ela nos obrigou com ela viver e aproveitar também. Lembrar de Pi me fez pensar que talvez eu seja injusta demais com as pessoas. Posso sofrer um acidente qualquer hora. Apesar de eu não esta com nenhuma doença que pode me levar a qualquer intenta eu sei que talvez eu me de ao luxo de deixar tudo para amanha,por que tenho em mim a certeza do amanha. Me sinto ridícula ao me dar conta disso e lembrar das coisas banais que eu andei dizendo hoje e das coisas importante que eu deixei de dizer. Os lugares que não visitei por preguiça,as desculpas que eu não pedi por orgulho,os minutos preciosos que eu não rompi por covardia,os abraços que não dei por frescura e as pessoas que eu deixei de abraçar e dizer com todas as silabas “eu te amo” para acabar com meus pulmões.
Eu não sei o que aconteceu com Pi,só sei que em uma segunda feira a diretora nos disse que ela não voltaria a dar aula. Talvez ela tenha tirado ferias,ido viajar,tenha se mudado ou a doença tenha a debilitado a ponto dela não querer mais sair de casa,não sei. Eu só tenho uma certeza,ela viveu muito mais do que eu e um monte de gente nesse mundo. Talvez a sensação de urgência real seja mesmo sentida apenas por quem recebe um diagnostico com dias de vida contados. Mas não deveria ser assim. Não deveríamos ter essa necessidade de receber um papel de um medico,para nos informar que,independente da nossa saúde,temos apenas o hoje e mais nada.
É meio clichê,mas por favor e por respeito a todas as Pi's que se foram ou que ainda estão no mundo:importe-se com seu dia,faça o que tem que ser feito,pegue o telefone,se declare. Se precisar pegue um avião e atravesse o mundo só para dizer com olhar o quanto ama alguém,faça tudo que for possível para acontecer. Tente realizar mais do que planejar,e gaste seus pulmões com declarações de amor que realmente valem a pena.