Toca
o telefone. É a Tae. Com a voz embargada me pedindo socorro, Parece
que engoliu suas próprias palavras e não consegue colocá-las para
fora. Eu já perdi as contas de quantas vezes atendi meu telefone ou
recebi uma mensagem com alguém do outro lado que estava engolindo o
choro e o despeja no instante em que eu digo –
Alô? E
todas as palavras do mundo somem ou são pronunciadas num linguajar
tão tristonho
que
ninguém compreende,a não ser quem as pronuncia.
Com
a Tae não foi diferente. A voz aguda de quem quer falar mas chora e
geme ao mesmo tempo. Dava pra imaginar suas mãos pequenas tremendo
segurando o telefone.
Ela
parecia uma criança me pedindo para que eu a ajudasse a eliminar sua
dor. No fundo eu acho que todos somos crianças quando estamos
sofrendo. O choro é igual. O medo. O nó na garganta, no peito, nos
olhos. E a sensação esmagadora de que o mundo inteiro continuou
quando você parou para pegar algum pedaço seu que caiu no chão.
Você
perdeu algum trem. Esta é a sensação. O desamor é como cair do
trem e ser abandonada na estrada. E no tombo ralar joelhos, queixo e
coração.
Depois
de me entregar a sorte dela como quem te dá um presente delicado pra
cuidar e não deixar cair, mesmo estando no meio de um tornado e
pendurada pelos pés, eu percebi como as pessoas vivem
enganadas.
Amar.
Amar.
Existe
receita pra isso?
Se
existe está muito bem escondida e não é no meu quintal. O que eu
sei sobre o amor é tão vago como o que qualquer outra pessoa sabe.
O que sei do amor, dá algumas linhas e depois vira reticências…Mas,
eu sei que amar mesmo não dói. O que dói é a expectativa
frustrada todo fim de noite. Dói o que projetamos no outro sem notar
que aquilo não está ali e não faz parte daquela pessoa. Doem as
falhas, os fracassos. O amor dói porque você ensaia um diálogo
perfeito no espelho, mas se esquece de que ninguém está atuando.
Esquece que o outro não é o teu espelho. É doloroso porque
programamos a nossa vida incluindo sempre uma segunda pessoa,
eternamente um plano A, sem o plano B. E quando a pessoa que – sem
saber – estava inclusa em nosso ideal de vida vai embora, a estrada
diante do nosso nariz – desaparece!
O que dói é este despreparo para o amanhã, que pode – e será – sempre diferente do hoje.
Mas amar não dói. Doem os nossos excessos. As nossas manias que desejam sempre ser engolidas pelo outro sem o auxilio sequer de um copo d’água. O nosso fuso horário que não bate com o do outro e tentamos reagir com egoísmo disfarçado de afeto. Enquanto isso, o sentimento chamado amor continua sendo bonito. O amor continua sentado num canto suspirando à espera de alguém que o atenda de verdade quando ele chamar.
Mas ainda somos como caminhões. E como todo bom caminhão, atropelamos o que vier pela frente na certeza de que o estrago é sempre menor em quem é maior. Mas não é.
O que dói é este despreparo para o amanhã, que pode – e será – sempre diferente do hoje.
Mas amar não dói. Doem os nossos excessos. As nossas manias que desejam sempre ser engolidas pelo outro sem o auxilio sequer de um copo d’água. O nosso fuso horário que não bate com o do outro e tentamos reagir com egoísmo disfarçado de afeto. Enquanto isso, o sentimento chamado amor continua sendo bonito. O amor continua sentado num canto suspirando à espera de alguém que o atenda de verdade quando ele chamar.
Mas ainda somos como caminhões. E como todo bom caminhão, atropelamos o que vier pela frente na certeza de que o estrago é sempre menor em quem é maior. Mas não é.
Estrago
não se mede pelo amassado que fica na lataria. Os danos estão lá
dentro, no íntimo de cada um.
Como explicar para alguém então que amar não dói e o que dói é o choque dos pés no chão de alguém que resolveu sair voando sem paraquedas? Como devolver a culpa para alguém que está procurando qualquer coisa para colocar a culpa?
Como explicar para alguém então que amar não dói e o que dói é o choque dos pés no chão de alguém que resolveu sair voando sem paraquedas? Como devolver a culpa para alguém que está procurando qualquer coisa para colocar a culpa?
O
amor continua sempre bonito. Feio é o que fazemos dele. É ele quem
deveria voltar para nos cobrar a conta. Deixar na porta da nossa casa
toda a lista que penduramos enquanto fingimos amar, mas só estamos
manifestando
nosso
desejo de posse e realização pessoal.
Mas
ele continua sendo amor. Respeitoso como só um bom sentimento sabe
ser. Aceitando ser taxado de doloroso por quem não sabe levar a vida
leve. E eu não sei como explicar isso para alguém porque as minhas
explicações e o pouco que sei do amor também não diminuiu a minha
dor e nem evitou as minhas quedas. Saber o que quer que seja do amor,
não me protege de nada
O
amor está no silêncio que não respeitamos. E as respostas sobre
ele estarão ausentes sempre que precisarmos.
Eu continuo não sabendo nada sobre como colar os pedaços de quem acabou de cair de um trem. Mas ofereci um abraço bem apertado para a minha melhor amiga, meu colo eterno e paciente . Quem sabe esta não seja uma manifestação do que sei sobre o amor?
Eu continuo não sabendo nada sobre como colar os pedaços de quem acabou de cair de um trem. Mas ofereci um abraço bem apertado para a minha melhor amiga, meu colo eterno e paciente . Quem sabe esta não seja uma manifestação do que sei sobre o amor?