Quando eu tinha cinco anos, sonhava com o dia em que eu faria sete. Fiz os tão sonhados sete anos e achava mais interessante completar logo dez. Dos dez aos doze eu esperei ansiosamente como uma mulher grávida espera pelo dia do parto. Aos treze, mal via a hora de fazer quatorze E hoje, aos quinze, queria acordar amanhã com cinco anos outra vez.
Eu imaginava que crescer significava encontrar um monte de coisas lindas pelo caminho e abrir portas incríveis de lugares mais incríveis ainda, onde só se entra quando se amadurece.A palavra “amadurecer” me atraía como uma cascata de chocolate na vitrine da doceria . Queria tanto provar esse tal amadurecimento que desejava que o tempo voasse e me desse logo os aniversários que eu precisava para alcançar tudo aquilo.Belo engano.Na teoria, amadurecer seria ganhar presentes da vida embrulhados em papéis lindos. O mundo sopra um vento delicado em seus ouvidos e você aprende uma coisa nova sobre família, amigos, carreira e amor. As lições seriam todas sutis.A chuva cai mansa e fresquinha em seus ombros e você entende a diferença entre o certo e o errado. Pronto. Amadureceu mais um pouquinho e está quase pronta, feito um bolo no forno.Essa foi a hora em que me enganei outra vez.Na prática, amadurecer foi preparar um banquete o dia todo e terminar comendo cocô de cavalo. Foi sentar na calçada para esperar alguma coisa muito importante que nunca veio, e de brinde ainda destruiu o que já havia chegado. Foi planejar e ver tudo se ir. Trabalhar duro para construir algo que foi descartado pelas impiedosas mãos do tempo. E se existe um jeito de aprender pelo amor, eu nunca cheguei nessa fase. Aprendi mesmo preparando sempre um “foda-se “com ar de superioridade, mas acabei vendo as coisas me foderem antes mesmo que eu conseguisse recuperar o fôlego.Amadurecer passou a me cheirar transformar o coração de algodão-doce em uma pedra de cimento dentro do peito. Talvez por isso a palavra seja amadure”cimento”. Acho que ela significou sempre que seria tornar-se uma pedra e eu nunca reparei. Mas passei a torcer para que os anos atrasassem os meus aniversários, porque o peito já estava pesado demais e era tanto cimento que daria para construir um prédio de cem andares.Não sei você, mas quando eu olho para as crianças hoje em dia, me pergunto se elas gostam da idade que possuem. E sinto uma vontade tremenda de contar para elas que é mais valioso não saber nada do que se tornar um sabichão infeliz. Já que amadurecer custa caro e a gente paga porque não tem escolha. Além de trocar a sua pele macia por rugas terríveis, você entrega ao mundo toda a sua pureza, inocência e simplicidade.Enquanto crianças isso é lindo de ver, mas, a medida que crescemos alguns chamam isso tudo de burrice. E quanto mais cedo nos livramos dessas coisas, alcançando o tal do amadurecimento, mais espertos ficamos e mais inteligentes.Pois eu preferia continuar burra pelo resto da vida do que ver morrer todas as minhas flores de sementes infantis.A gente sofre porque perdeu o emprego, levou um pé na bunda, não conseguiu realizar aquele sonho ou não viveu da maneira como queria, e depois de chorar até colocar as tripas para fora, as pessoas nos olham e dizem orgulhosas – “Mas com isso tudo você amadureceu muito, e isso é ótimo”, e eu não consigo ver nada de ótimo em ter que perder e sofrer para caralho para ganhar como prêmio “se tornar mais maduro”.Sinceramente, eu seria mais feliz se acordasse amanhã com sete anos e trocasse meus discursos sobre os impactos da modernidade por uma discussão interna para descobrir se é mais fácil pintar com lápis ou com giz de cera.Mas os anos me engoliram e agora que sou gente grande eu preciso me conformar com a perda. Outro brinde do amadurecimento: você aprende a se conformar.Minha prima ainda não completou cinco anos. E quando esse dia chegar, vou torcer para que na hora em que ela for assoprar a vela, não jogue fora aquela oportunidade tão pura e não peça para o tempo voar. Vou torcer para que ela peça que o tempo lhe dê asas, e que por toda a vida, apenas ela voe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada por ler *-*